quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Ainda

Queria amá-lo e
Perder o fôlego com tua presença.
Deixar meu coração acelerar a cada beijo,
A cada toque.


E se ainda precisar de ti com essa tua razão admirável,
Com este amor tão supremo,
Tão completo?


Choraria sua ausência e sua presença.
E bem que queria ser capaz de chorar por ti...
Afogar-me num choro apagado pelo tempo,
Cuja cor seria carmim.


Tê-lo-ia em meus braços, 
Leria novos poemas,
Cantaria canções que aprendi na distância.
E na noite mais esperada,
Lhe mostraria lembranças.

Despertaria nossas risadas e raiva,

Mostrando a plenitude desta existência problemática, porém amável.
Se eu ainda fosse capaz, lhe
Escreveria uma poesia
Que demonstrasse a linha tênue que nos separa
E o fino laço que nos une.


Inexplicavelmente, o 'talvez' me conforta,
Diferentemente do que respirávamos lado a lado.
Conserva o que há de bom e não pode ser saciado,
Sob pena de antecipar o fim ainda inexistente.



Um comentário:

HOMEM (IN) COMUM disse...

Amor é privilégio de maduros
estendidos na mais estreita cama,
que se torna a mais larga e mais relvosa,
roçando, em cada poro, o céu do corpo.
É isto, amor: o ganho não previsto,
o prêmio subterrâneo e coruscante,
leitura de relâmpago cifrado,
que, decifrado, nada mais existe valendo
a pena e o preço do terrestre,
salvo o minuto de ouro no relógio
minúsculo, vibrando no crepúsculo.
Amor é o que se aprende no limite,
depois de se arquivar toda a ciência
herdada, ouvida.
Amor começa tarde.

Carlos Drummond de Andrade.